Histórias do Carnaval
Carnaval
Para homenagear o Deus Saturno, havia uma festa na Roma Antiga chamada "Saturnais". As escolas ficavam fechadas, os escravos eram soltos e as pessoas saíam às ruas para dançar. Carros (chamados de "carrum navalis" por serem semelhantes aos navios) levavam homens e mulheres nus em desfile. Muitos dizem que pode ter sido daí a expressão "carnavale".
A Igreja Católica se opunha a estes festejos pagãos, mas, em 590, decidiu reconhecê-los. Exigiu, porém, que o dia seguinte (Quarta-Feira de Cinzas) fosse dedicado à expiação dos pecados e ao arrependimento.
De lá para cá, o Carnaval foi mudando aos poucos de cara. Na Idade Média, incluía sátiras aos poderosos. Os foliões se protegiam de possíveis retaliações com a desculpa de que a festa os deixava loucos ("folia", em francês, significa loucura).
No Brasil o início da festa é conhecido como "grito de carnaval". Antigamente os clubes promoviam festas pré-carnavalescas com este nome. Nessas festas as pessoas iam fantasiadas e cantavam e dançavam ao som de marchinhas de Carnaval.
Carnaval em Salvador
São 25 quilômetros de ruas e praças bloqueadas para os festejos. Um dia antes do início oficial da folia, o Rei Momo recebe as chaves da cidade e desfila em carro aberto ao lado de suas rainhas e princesas. No centro histórico da cidade, no Terreiro de Jesus e na Praça da Sé, a festa é afro. Olodum, Ilê Aiyê e Filhos de Gandhy são alguns dos blocos que reúnem seus foliões em local e redutos próprios. Na quarta-feira de cinzas, todos se encontram na praça Castro Alves.
No século XIX, quando ainda não existia a música carnavalesca, o Carnaval baiano era embalado por trechinhos de óperas.
O Olodum foi o primeiro bloco afro a desfilar num trio elétrico. Moradores do centro histórico de Salvador criaram o bloco em 1979.
O Olodum ganhou fama internacional em 1990, quando o cantor norte-americano Paul Simon foi ao Pelourinho gravar a canção "The Obvius Child", do CD "The Rhythm of The Saints". Outro bloco afro, o Ilê Ayê nasceu em 1974. A Timbalada, orquestra de percussão inventada por Carlinhos Brown, usa os timbaus, um tambor derivado do atabaque. Surgiu em 1993.
Antonio Luís de Souza, conhecido como Neguinho do Samba, foi o fundador do Olodum. Depois de algumas divergências com a cúpula do bloco, ele saiu e fundou a Didá, um bloco só para mulheres. O belo sobrado do Pelourinho onde funciona a Didá foi doado pelo músico americano Paul Simon.
O famoso grupo musical Ara Ketu nasceu como bloco carnavalesco, em 1981, em Periperi, subúrbio de Salvador. Assim como os grandes blocos (Olodum, Filhos de Gandhi e Ilê Ayê), ele surgiu sob a inspiração do candomblé. Em ioruba, Ara Ketu significa "povo de Ketu". Foi Ketu, localizada na Nigéria, a nação que mandou para a Bahia o maior número de escravos.
Trios elétricos
Tudo começou com um calhambeque, um velho Ford T 1929, equipado com dois alto-falantes. Seus donos eram Osmar Macedo e Adolfo do Nascimento, em 1950. Dodô (apelido de Adolfo) e Osmar saíram pelas ruas de Salvador tocando os frevos de Pernambuco no último volume. A galera da rua aprovou e foi dançando atrás. Nascia o primeiro trio elétrico.
No ano seguinte, o calhambeque foi substituído por uma caminhonete e, em 1952, uma fábrica de refrigerantes ofereceu-lhe um caminhão. Nas décadas seguintes, outros trios foram surgindo e, hoje dispõem de instrumentos modernos, que tocam do reggae à música clássica e animam muitos outros eventos, além do Carnaval.
"Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu." Mas cuidado com os ouvidos! A intensidade sonora dos trios elétricos chega a uma média de 108 decibéis. O som altíssimo dos trios pode ser escutado a 1 quilômetro. Só não prejudica a audição se for ouvido por, no máximo, de 15 a 20 minutos. A prefeitura de Salvador limitou o nível de ruído a 115 decibéis, embora os trios tenham potência para atingir 150. Se ele fosse usado no volume máximo, arrebentaria os tímpanos e os vidros num raio de 100 metros.
Uma das atrações do Carnaval de Porto Seguro é o jegue elétrico, criado pelo mineiro Reginálvaro Oliveira da Vitória. O jegue Kojak, todo fantasiado, puxa 400 quilos de aparelhagem de som.
O cantor e percussionista baiano Carlinhos Brown foi acusado de ter violado o artigo 233 do Código Penal (ato obsceno em público). Segundo a polícia, ele ficou pelado em cima do trio elétrico da Timbalada na madrugada do dia 25 de fevereiro de 1998, em Salvador. A pena de 3 meses a 1 ano de prisão foi convertida numa multa de 1.950 reais em cestas básicas para orfanatos.
Uma hora pulando atrás de um trio elétrico consome cerca de 600 calorias.
Glossário da folia
Abadá
Camisão sem mangas, usado pelos integrantes dos blocos de rua na Bahia. Junto com o boné, o short e o mamãe-sacode, ele completa o kit fantasia, vendido como o ingresso para o bloco.
Bloco
Espaço em torno do trio elétrico isolado por cordas e seguranças, onde os foliões fantasiados brincam com comodidade.
Carro de apoio
Caminhão que vem sempre atrás do trio elétrico e dispõe de banheiros, bares e serviços de primeiros socorros.
Corda
O que separa o bloco da pipoca.
Cordeiro
Seguranças responsáveis por levar a corda e impedir a entrada de quem não está fantasiado.
Mamãe-sacode
Adereço de mão feito de um bastão com fitas de náilon e usado para sacudir, semelhante aos das torcidas organizadas do futebol americano.
Pipoca
Quem pula fora da corda.
Fonte: Guia dos Curiosos
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