Este é um texto do amável educador Celso Antunes para tomarmos como modelo.
MARIA PRETA
A professora Maria, preta, gorda, lustrosa é um modelo de simpatia. Enorme, não passa de frente por lugares que as outras passam e, dessa maneira, sempre vira de lado para que seu corpo volumoso possa atravessar as portas estreitas e alguns espaços apertados de sua escola. Apesar de seu tamanho gigante, sempre chega à escola meia hora antes do início das aulas.
Isso fazia parte de sua rotina, pois compreendia que não pode iniciar as atividades sem preparar o ambiente, organizando o espaço de maneira que o mobiliário e o material facilitassem a atividade autônoma dos alunos. Em sua sala, por sua conta e risco e colaboração das famílias que podiam jamais faltava para material de limpeza, cantinho para os jogos, lugar para os livros de história, recipientes plásticos com material de pintura e até uma estante onde se acomodam alguns velhos instrumentos musicais. Todos os alunos de Maria sabiam sempre o lugar de todas as coisas.
Após o sinal de cada dia as crianças chegavam e como já haviam aprendido a se apropriar do espaço e familiariza-se com os móveis, sabia também as tarefas cotidianas, anteriormente planejadas desde regar as flores, até fechar portas sem barulho, movimentar as cadeiras com serenidade. Os alunos de Maria não percebiam que aprendiam, mas já sabiam como dominar seus movimentos, coordenando-os as suas tarefas, agindo, colocando e mantendo as coisas em ordem. A professora não tem obsessão pela ordem, mas sabe que seus alunos necessitam aprender a se situar no mundo, cooperando sempre, sem precisar de ninguém.
Aprenderam também, sem nem perceber que aprenderam, que lavar às mãos é essencial, pendurar casacos necessário, por o avental faz parte da rotina. Sabem usar o banheiro, aprenderam o valor dos alimentos e ao mesmo tempo aprenderam a comer, sabendo se servir e ajudar os colegas, se necessário. Em verdade, os alunos de Maria aprendem mesmo é se tornar independentes, ser autônomos, descobrindo que podem por si mesmas na escola e em casa, viver sem ter que pedir o que não precisa ser pedido, resolver situações com criatividade, controlar a ansiedade. Sabem o que é liberdade e com usá-la, jamais perguntam o que sozinhos sabem descobrir.
Nas aulas com Maria aprendem a cumprimentar, as regras essenciais para jogar, como desenvolveram hábitos de se despedir, escutar e somente interromper uma conversa, se essencial. Aprenderam a fazer amizades, receber bem os colegas novos, cuidar-se com serenidade dos adultos que deles se aproximam. Descobriram, experimentando e exercitando em sala como se comportar nos transportes e nos lugares públicos e que assim agir é forma de civismo, mas é forma de independência também.
Em aula, muitas se equilibram sobre uma linha e aprendem a dominar movimentos do corpo e dirigir com atenção o pensamento, se é hora de exercitar o pensar. Brincam com figuras geométricas e apreendem suas formas, interessa-se por sua cor. Aprendem a lamber, pois é essencial que aprimorem o paladar, sabem ver, pois praticaram experiências para perceber que ver é mais que olhar e que é coisa que na escola se aprende. Existem momentos para aprimoram o tato, comparar texturas, identificar cheiros e dramatizar com jogos diferentes, muitas vezes, as coisas que aprendem.
Quando chega a hora de aprenderem com letras do alfabeto, constroem palavras e com números organizam equações. Algumas apanham cartões classificados, escrevem as ideias propostas em seu caderno e não poucas vezes somam, dividem, brincam de banco ou de mercearia. Uma delas, vez ou outra procurando pintar o que desenhou deixa cair um vaso com água. Ninguém se assusta e Maria, sempre sorrindo, não se sobressalta. Não há risos e nem tensão e o próprio aluno, ajudado por um amigo, se encarrega de apanhar o material de limpeza e enxugar o chão.
Existem dias em que trabalham artes plásticas, aprendem a misturar cores, desenhar, modelar, cortar e colar, furar, decorar, colar. Descobrem que existe autonomia e liberdade, mas que bom gosto se aprende. Em outros dias é com música que se trabalha e tem hora para cantar, dançar, improvisar, adivinhar sons que propositalmente Maria esconde. Há também dias de pesquisar, observando caracóis, aprendendo com formigas, pesquisando abelhas, acompanhando a semente germinar no algodão úmido.
O currículo para os alunos de Maria não é muito diferente com outros de outras escolas, a diferença, entretanto é que não ordena a criança o que ela precisa fazer, mas mostra o fazer fazendo. Além disso, seus alunos nunca se sentem culpados e não tem medo de errar, pois aprenderam que o erro faz parte do processo e que nenhum erro é sério quando se aprende como corrigi-lo e tentar não mais errar. Sabem que muitas vezes o colega é o melhor professor. Seus alunos muitas vezes trabalham individualmente, mas existem atividades em pequenos grupos e atividades que toda classe participa coletivamente. Maria não precisa ficar repetindo o que todos já sabem: Aprender significa ser protagonista de sua própria aprendizagem. Não lembra a cada instante a mensagem que nunca esquecem: Toda pessoa é livre para agir, o único limite é a liberdade do outro. A sala de aula “ferve" em atividades, mas o ambiente é serenamente tranqüilo e a imensa Maria, trabalhando muito, parece sempre descansar. Maria, preta, gorda, lustrosa, simpática, imensa incorporou sem jamais conhecer pessoalmente uma outra Maria, morta há tempos e de sobrenome Montessori.
Isso fazia parte de sua rotina, pois compreendia que não pode iniciar as atividades sem preparar o ambiente, organizando o espaço de maneira que o mobiliário e o material facilitassem a atividade autônoma dos alunos. Em sua sala, por sua conta e risco e colaboração das famílias que podiam jamais faltava para material de limpeza, cantinho para os jogos, lugar para os livros de história, recipientes plásticos com material de pintura e até uma estante onde se acomodam alguns velhos instrumentos musicais. Todos os alunos de Maria sabiam sempre o lugar de todas as coisas.
Após o sinal de cada dia as crianças chegavam e como já haviam aprendido a se apropriar do espaço e familiariza-se com os móveis, sabia também as tarefas cotidianas, anteriormente planejadas desde regar as flores, até fechar portas sem barulho, movimentar as cadeiras com serenidade. Os alunos de Maria não percebiam que aprendiam, mas já sabiam como dominar seus movimentos, coordenando-os as suas tarefas, agindo, colocando e mantendo as coisas em ordem. A professora não tem obsessão pela ordem, mas sabe que seus alunos necessitam aprender a se situar no mundo, cooperando sempre, sem precisar de ninguém.
Aprenderam também, sem nem perceber que aprenderam, que lavar às mãos é essencial, pendurar casacos necessário, por o avental faz parte da rotina. Sabem usar o banheiro, aprenderam o valor dos alimentos e ao mesmo tempo aprenderam a comer, sabendo se servir e ajudar os colegas, se necessário. Em verdade, os alunos de Maria aprendem mesmo é se tornar independentes, ser autônomos, descobrindo que podem por si mesmas na escola e em casa, viver sem ter que pedir o que não precisa ser pedido, resolver situações com criatividade, controlar a ansiedade. Sabem o que é liberdade e com usá-la, jamais perguntam o que sozinhos sabem descobrir.
Nas aulas com Maria aprendem a cumprimentar, as regras essenciais para jogar, como desenvolveram hábitos de se despedir, escutar e somente interromper uma conversa, se essencial. Aprenderam a fazer amizades, receber bem os colegas novos, cuidar-se com serenidade dos adultos que deles se aproximam. Descobriram, experimentando e exercitando em sala como se comportar nos transportes e nos lugares públicos e que assim agir é forma de civismo, mas é forma de independência também.
Em aula, muitas se equilibram sobre uma linha e aprendem a dominar movimentos do corpo e dirigir com atenção o pensamento, se é hora de exercitar o pensar. Brincam com figuras geométricas e apreendem suas formas, interessa-se por sua cor. Aprendem a lamber, pois é essencial que aprimorem o paladar, sabem ver, pois praticaram experiências para perceber que ver é mais que olhar e que é coisa que na escola se aprende. Existem momentos para aprimoram o tato, comparar texturas, identificar cheiros e dramatizar com jogos diferentes, muitas vezes, as coisas que aprendem.
Quando chega a hora de aprenderem com letras do alfabeto, constroem palavras e com números organizam equações. Algumas apanham cartões classificados, escrevem as ideias propostas em seu caderno e não poucas vezes somam, dividem, brincam de banco ou de mercearia. Uma delas, vez ou outra procurando pintar o que desenhou deixa cair um vaso com água. Ninguém se assusta e Maria, sempre sorrindo, não se sobressalta. Não há risos e nem tensão e o próprio aluno, ajudado por um amigo, se encarrega de apanhar o material de limpeza e enxugar o chão.
Existem dias em que trabalham artes plásticas, aprendem a misturar cores, desenhar, modelar, cortar e colar, furar, decorar, colar. Descobrem que existe autonomia e liberdade, mas que bom gosto se aprende. Em outros dias é com música que se trabalha e tem hora para cantar, dançar, improvisar, adivinhar sons que propositalmente Maria esconde. Há também dias de pesquisar, observando caracóis, aprendendo com formigas, pesquisando abelhas, acompanhando a semente germinar no algodão úmido.
O currículo para os alunos de Maria não é muito diferente com outros de outras escolas, a diferença, entretanto é que não ordena a criança o que ela precisa fazer, mas mostra o fazer fazendo. Além disso, seus alunos nunca se sentem culpados e não tem medo de errar, pois aprenderam que o erro faz parte do processo e que nenhum erro é sério quando se aprende como corrigi-lo e tentar não mais errar. Sabem que muitas vezes o colega é o melhor professor. Seus alunos muitas vezes trabalham individualmente, mas existem atividades em pequenos grupos e atividades que toda classe participa coletivamente. Maria não precisa ficar repetindo o que todos já sabem: Aprender significa ser protagonista de sua própria aprendizagem. Não lembra a cada instante a mensagem que nunca esquecem: Toda pessoa é livre para agir, o único limite é a liberdade do outro. A sala de aula “ferve" em atividades, mas o ambiente é serenamente tranqüilo e a imensa Maria, trabalhando muito, parece sempre descansar. Maria, preta, gorda, lustrosa, simpática, imensa incorporou sem jamais conhecer pessoalmente uma outra Maria, morta há tempos e de sobrenome Montessori.
Fonte: http://www.celsoantunes.com.br/pt/textos_exibir.php?tipo=TEXTOS&id=47
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